No Brasil hoje temos 817 mil pessoas que se autodeclararam indígenas no Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Uma diversidade de grupos e povos originários que não veem essa pluralidade respeitada, muitas vezes sendo representadas como um povo só (trajando e se comportando como não são).
É comum ver atividades escolares promoverem a “comemoração” da data com reforço a estereótipos que não apenas desrespeitam a diversidade como promovem o atraso. Em matéria veiculada no Jornal do Commércio, Sarapó Pankararu (40 anos), integrante da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme) declarou:
“Este dia não é comemorativo, é de muita tristeza. Simbolicamente é o Dia do Índio, mas nós, nativos, não temos nada a comemorar, pelo contrário, só temos desgraças. Ano após ano nossas populações são atacadas e nossas culturas sofrem tentativas de dizimação (…)” Sarapó orienta escolas sobre trabalhar a data e o tema com estudantes:
“Cada povo tem sua especificidade, forma de praticar a cultura e os costumes. Quando a sociedade nos homenageia se fantasiando, por exemplo, é como se todos colocássemos a mão na boca e fizéssemos barulho, e não fazemos isso. Ou nos trata como se fossemos o indígena romantizado, do tempo do descobrimento, ou o amazônico.”
A LUTA E REALIDADE INDÍGENA COMO PONTO DE ESTUDO E REFLEXÃO
Entre os dias 4 e 14 de abril, cerca de sete mil descendentes de povos originários integraram o 18º Acampamento Terra Livre (ATL) em Brasília, no Distrito Federal.
Com o tema “Retomando o Brasil: Demarcar Territórios e Aldear a Política”, foram apresentadas cobranças por demarcação de terras e contra a exploração de recursos em reservas indígenas. Em Pernambuco, a maior preocupação hoje é a construção de usinas nucleares próximas ao Rio São Francisco.
UBIRAJARA, PANKARARU, FALA SOBRE O DIA
A liderança indígena Pankararu da região do sertão de Itaparica, Petrolândia, Ubirajara Fernandes Barbosa, mais conhecido por Bira, fala sobre o dia:
“Para os povos indígenas o 19 de Abril é uma data de resistência, de lembrar as perdas, os povos dizimados, as línguas extintas, lembrar as culturas originárias que foram decepadas. É um mês de luta e de lembrar as terras indígenas que ainda não foram homologadas, lembrar as grandes lideranças que foram assassinadas pelos latifundiários a exemplo de Chicão Xucuru e tantos outros. Momento de lembrar dos guerreiros que nos garantiram na constituição… Quitéria Binga, Miguel Binga, Dona Hilda a grande liderança que lutou por seu território entre serras. É um dia de reafirmar, de lembranças, de lutas de um povo originário brasileiro.” declarou com exclusividade ao portal.
PARA DEBATER A ATUALIDADE, CONHECER A HISTÓRIA
Para o artista plástico Denilson Baniwa, uma maneira adequada de abordar o Dia do índio nas escolas seria falar da diversidade e importância deles.
“Índio não é tudo igual e não fala tudo tupi. Existem mais de 300 etnias, que falam mais de 300 idiomas. É importante saber que os indígenas são diferentes no Sul, no Nordeste, no Norte, no Sudeste e no Centro-Oeste. São visões diferentes de mundo e de cultura. Essa diversidade é importante para a formação do Brasil e entendimento do país enquanto território nacional”. Disse ao G1.
A ativista Katu Mirim liderou em 2019 a campanha #ÍndioNãoÉFantasia contra o uso de penas, pinturas corporais e cocares que remetem a povos indígenas no carnaval daquele ano. De acordo com a indígena, trata-se de racismo e não homenagem. resumiu a sugestão para as escolas no banner criado por ela.
“Pedi que por favor os professores não reforcem estereótipos, não coloquem a música da Xuxa, não sejam um desserviço. Acho importante a escola levar um indígena para falar, pesquisarem sobre a questão indígena. Nós existimos e resistimos. Está na hora de nos escutarem, entenderem nossas questões e nos deixarem falar. Vocês estão no Brasil, terra indígena, se não respeitam a raiz vão respeitar o quê? Se for pra reforçar estereótipos e racismo, o melhor é ficar quieto.” Declarou.
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