Artigo de opinião por : Francis Rubens
Às margens do Rio São Francisco está a cidade de Petrolândia, ou podemos dizer as Petrolândias? Quando olhamos de perto a cidade de aproximadamente 37 mil habitantes, podemos ver que as desigualdades escancaram duas realidades opostas.
Do mesmo modo que ostenta o 5° maior PIB per capito do estado, também possui um alto índice de trabalhadores que têm renda inferior a 1 salário mínimo. Enquanto tem uma das maiores produções de tilápia do nordeste, não possui nenhuma faculdade presencial ou escolas técnicas.
Cidades bem diferentes
E não são só os aspectos socioeconômicos que dividem este lugar, seu tecido urbano também mostra duas cidades distintas. Enquanto temos as quadras (bairros) do centro com saneamento, ruas calçadas, praças e todos demais serviços urbanos, não muito distante temos os bairros Novo Horizonte e Nova Esperança.
O Bairro Nova Esperança, por exemplo, a anos sonha com saneamento básico ou sequer um calçamento. Há menos de 2km do centro a situação é de tanta precariedade que os moradores têm que se deslocar para pegar suas correspondências, pois os correios não fazem entregas lá.
Sonho mais uma vez adiado
Estamos finalizando o mês de março e podemos ver os sinais da chuva. Algo que gera tanta comemoração no sertão é um transtorno para os moradores das áreas menos abastadas da cidade. Ruas que nunca foram calçadas viram atoleiros durante as chuvas.
A pavimentação desses lugares sempre está na pauta de campanhas políticas, várias gestões passam e os avanços são mínimos. Nos últimos meses o centro da cidade virou um verdadeiro canteiro de obras de saneamento e reparo de ruas enquanto no bairro nova esperança ainda guarda a imagem de lugar desamparado.
Houve até uma inauguração de uma praça numa das áreas mais nobres da cidade. O prefeito junto com aliados discursou orgulhoso e até o único vereador que se diz oposição elogiou a obra salientando como “Petrolândia está se desenvolvendo”.
Será uma praça mais urgente que saneamento básico? Sabemos que com a chegada de um período chuvoso a tão sonhada pavimentação dos bairros periféricos será adiada por mais um ano. No curso dos mandatos a prioridade é um centro limpo, um comércio pujante e belezas para turista ver e quando sobra tempo e espaço que se olha para a população mais carente. E você? Em qual das duas realidades você está inserido? A concreta do dia-a-dia ou a do Instagram? Em qual cidade quer viver?
Enquanto os incautos ficam à janela, olhando a banda tocar, um certo alguém da turba, exorta, “O rei está nu”.
Um enredo conhecido da ficcional Sucupira – novela o Bem Amado – do saudoso Dias Gomes, com projetos faraônicos, “Cinturão Verde” eufemismo de “Cinturão de Asfalto” para escoar uma monocultura, comprometendo 40 milhões do minguado orçamento, sem uma simples consulta ao contribuinte, principal credor, enquanto duas grandes comunidades tornam-se invisíveis, sofrem com ausência de saneamento, o básico para evitar doenças medievais.
Enquanto os incautos permanecem inertes à janela, observando a banda passar, é preciso alguém com sendo de realidade, exorte, “O rei está nu”.
Enredo por demais conhecido da ficcional Sucupira, novela O Bem Amado, do saudoso Dias Gomes, muito circo e projetos faraônicas, “Cinturão Verde” para escoar uma monocultura, comprometendo em 40 milhões o minguado orçamento, sem audiências públicas, consulta ao principal credor. Lado outro, duas grandes comunidades, tornam-se invisíveis ao Gestor Municipal, sem investimento em saneamento, o básico para evitar infestações de pestes medievais. Desconfiem da unanimidade na política nativa.