BRASIL EM GUERRA

BRASIL EM GUERRA

Podemos chegar a conclusão que o Brasil está em guerra e em guerra contra ele mesmo. É uma guerra centenária, nossa história é repleta de ações militares para golpes de estados, inclusive nossa república foi proclamada num golpe. Mas é nas últimas décadas que as estatísticas vem mostramos que temos números relacionados a mortes violentas equiparados a números de conflitos armados em vários lugares do mundo.

Foi durante a ditadura militar que o estado consolidou as estruturas de segurança para terem o próprio cidadão como inimigo. Foi neste período que as forças policiais e militares foram preparadas pra caças e deter “ameaças” internas e todo cidadão era suspeito. Torturas, prisões arbitrárias, sequestros, assassinatos, estupros e tudo mais que possa imaginar de violência eram praticados pelos órgãos de repressão.

Nos dias de hoje, por mais que tenhamos bravos policiais a militares que trazem olhares mais humanos, parece que o ranço dos anos de chumbo ainda está entranhado nas estruturas. Câmara de gás improvisadas em viaturas, assassinato de indígena no sertão e chacina em favela no RJ, São exemplos de como o Estado vê seus cidadãos mais vulneráveis como inimigos.

As pesquisas sobre o assunto mostram uma coisa bem peculiar, temos no Brasil em 2021 uma queda no número de homicídios e também nas mortes causadas pela polícia (7% e 17%) e por outro lado o crescimento de 35% nas mortes por causas indeterminadas. Podemos concluir que não dá pra ter clareza se há de fato uma melhora na segurança pública ou simplesmente há uma piora na identificação dos crimes, também mostra uma falta de transparência dos números relacionados à violência, principalmente violência policial.

Mesmo com muitas distorções que podem amenizar os números da violência o Brasil ainda tem números que mostram que temos uma das polícias que mais mata e mais morre no mundo. A falta de transparência e a ideia predominante no governo federal de abraçar a truculência e agressividade contra o pobre como instrumento de ordem estão dando mais espaço para que maus profissionais ajam impunemente.

Mais recentemente tivemos aqui no nordeste casos bem emblemáticos da presença desse ideário neonazifascista. Em Sergipe, Genivaldo de Jesus Santos, homem negro, foi morto numa câmara de gás improvisada em viatura da PRF. Aqui no Sertão de Pernambuco o indígena Edvaldo Manoel de Souza (61 anos), foi morto durante uma abordagem atribuída a três policiais,

Essa guerra que vive o país deixa baixa de ambos os lados, tivemos agora em Buíque a morte do subcomandante, Major Gláucio Rezende, vitimado num confronto com bandidos e no ceará tivemos dois policiais federais mortos enquanto vaziam uma abordagem numa rodovia federal e tentaram conter um homem que parecia estar em um surto psicótico. Nas redes sociais as mortes dos policiais foram usadas para reforçar e justificar ações mais violentas. Eram comuns comentários do tipo: “morreu por que não pode mais chegar dando murro e rasteira, pois senão perde a farda” ou “ se chegasse logo atirando da cabeça não teria morrido”. Parece que o governo e parte da sociedade com ideia de defender mais violência policial e armar a população está querendo que se desencadeie uma guerra civil na qual os ricos em seus condomínios e segurança paga poderão assistir, em camarotes, trabalhadores se matando.

A falta de estudos e dificuldade de pesquisadores conseguirem dados confiáveis é uma mostra que não há, em nível nacional, uma vontade de criar uma política de segurança pública que torne o país de fato mais seguro pra todos. O que escutamos é o incentivo a exposição cada vez maior ao risco de morte para trabalhadores de segurança pública somado a um discurso armamentista de cada um por si. Dá para acreditar que existe um projeto de intensificar essa guerra interna, e se existe um projeto, existe alguém que vai ganhar muito dinheiro com isso. Uma pista pode ser está nas favelas do RJ, que hoje muitos ganham fortunas por causas de conflitos em locais mais pobres da cidade, inclusive muitos desses bem próximos à família do presidente da república.

E enquanto o crime organizado vai tendo um braço institucional cada vez mais forte, o país segue em guerra consigo mesmo ou melhor em guerra contra o que faz do Brasil uma nação, seu próprio povo.

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