Diante de tanta hipocrisia, torna-se enfadonho e cansativo o tema aborto.Somos Cristãos, reprovamos tal ignóbil ato, mas não devemos fechar os olhos para a realidade fatual, que envolve questões de estratificação social, socioeconômicas, e mormente de saúde pública.
O descaso pelo acesso à informação sobre a dignidade sexual, entrelaçado pelo dogma religioso, obsta o enfretamento do aborto como questão de saúde pública, com o reverberar em macabra estatística apresentada no informe virtual do CONSELHO FEDERAL DE EMFERMAGEM-COFEN, 03/08/2018, vejamos:
“A estimativa do Ministério da Saúde é de cerca de 1 milhão de abortos induzidos, portanto, uma carga extremamente alta que independe da classe social. O que depende da classe social é a gravidade e a morte. Quem mais morre por aborto no Brasil são mulheres negras, jovens, solteiras e com até o Ensino Fundamental”, afirmou Maria de Fátima Marinho de Souza, diretora do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde. Ainda de acordo com o órgão, os procedimentos inseguros de interrupção voluntária da gravidez levam à hospitalização de mais de 250 mil mulheres por ano, cerca de 15 mil complicações e 5 mil internações de muita gravidade. O aborto inseguro causou a morte de 203 mulheres em 2016, o que representa uma morte a cada 2 dias. Nos últimos 10 anos, foram duas mil mortes maternas por esse motivo. Diante de alarmante descalabro, existe outra narrativa, a qual devemos refletir, sobre a fúria concupiscente primata dos machos.
Como conter os impulsos atávicos ególatras da lascívia masculina? Ora, para o prazer e conforto dos machos, as Mulheres entregam seus corpos para uma tsunami de contraceptivos. De outro giro, em pesquisa ao sábio Google, salvo o preservativo, a popular camisinha, e a vasectomia, com possível reversão, não se vislumbra outro contraceptivo masculino. Eis busílis!Não estou sugerindo a castração de homens, como se faz a um bacorinho.Vocês percebem como fomos célere na invenção do Viagra, em contraponto ao ínfimo interesse em investimentos em pesquisas sobre contraceptivos masculinos.
Estive conversando com uma amiga sobre esse assunto, ela muito perspicaz, levantou outra questão interessante, “que a invenção do equipamento de mamografia, sem dúvida, foi de um cientista machista”, pois trata de uma máquina de tortura. Recente notícia de uma comarca do interior de São Paulo, o Ministério Público ingressou com uma ação para ligadura tubária de uma moradora de rua, teve êxito, foi cômodo, mas, o reprodutor continua livre e copulando.
Por fim, o admoestar, da saudosa Simone de Beauvoir “as mulheres ainda não descobriam que são seus opressores; não existe unicidade no mundo feminino”.
Manuel Gabriel é advogado petrolandense