O sistema financeiro passa por profundas transformações. A evolução do processo tecnológico; a competitividade estabelecida no setor; o oportunismo descarado do atual governo, implementando o desmonte dos bancos públicos, colocando essas instituições e seus trabalhadores em patamares iguais ou até piores ao do setor privado. Isso tudo se alinha perfeitamente à atual política econômica, se é que podemos chamar assim, facilitadora do acúmulo do capital improdutivo, da ausência de investimentos no setor público e do desmonte de setores estratégicos.
Essas mudanças trazem para a categoria bancária enormes desafios. Em 1994, nós representávamos 80% de bancários e bancárias no setor financeiro, hoje somos menos de 50% e este índice cai dia a dia. Dos cinco maiores bancos no país, três deles estão acelerando essas mudanças. O Santander vem implementando um ávido processo de terceirização, utilizando empresas ligadas ao conglomerado do banco para transformar bancários em comerciários. Neste sentido, muda o conceito de agências bancárias para lojas, tentando descaracterizar o trabalho bancário. Esta prática nociva retira direitos dos trabalhadores, aumenta a exploração e fragiliza a organização sindical, uma vez que pulveriza a classe diminuindo o poder da nossa ação sindical em defesa dos bancários e das bancárias.
No Bradesco, além de todas as mazelas, como as demissões, assédios, pressão por metas e adoecimento, presente em todos os bancos, o banco inicia a transformação de várias agências em “Unidade de Negócio (UN)”. Como diz o próprio Bradesco, é um novo conceito de atuação no mercado para atender a um público específico.
Do ponto de vista da forma de como o banco atua nessas unidades de negócio, uma vez que falta para o país uma regulamentação do sistema financeiro, que estabeleça aos bancos uma atuação diferente na economia, esse conceito não se diferencia muito do que já existe hoje no setor privado no Brasil. O que revolta os bancários e as bancárias é a irredutível decisão do Bradesco de retirar os itens de segurança das UNs, expondo a vida dos trabalhadores e dos clientes.
No mesmo caminho traçado pelo Bradesco e Santander vem o Banco do Brasil, atingido durante anos com duras reestruturações, que no lugar de cumprir seu papel enquanto empresa pública age na direção oposta, sendo pautado pelas orientações do capital privado. Com o mesmo objetivo de descaracterizar o trabalho bancário, com o sério agravante de ser um banco público, transforma suas agências em “lojas”, copiando o mesmo modelo do Bradesco e do Santander. Agora, os trabalhadores dessas “lojas”, além das pressões, perdas das funções e adoecimento, não poderão mais contar com os vigilantes no interior das agências fazendo a devida segurança.
No caso do Banco do Brasil duas coisas precisam ser ressaltadas: a primeira é a subserviência dessa instituição financeira, com mais de duzentos anos de vida, sob o comando deste governo lesa-pátria. O BB cede às orientações de um sistema que não tem a menor responsabilidade com a economia, muito menos com o país, e apenas enxerga os setores produtivos como oportunidade de negócios, agindo como verdadeiros sanguessugas. A segunda é a forma como a direção do banco trata os seus funcionários. Retirar a vigilância do interior das agências é entregar trabalhadores à própria sorte, é deixar claro sua ideia de que somos peças descartáveis, objetos de reposição dessa máquina desenfreada de moer gente.
Não aceitamos essa condição. Vamos acionar o Ministério Público, buscar apoio na Assembleia Legislativa e nas Câmaras Municipais, construir ações políticas de resistência e denunciar à sociedade o descaso deste banco com seus funcionários e clientes. Para isso, o engajamento de todos e todas, funcionários do Banco do Brasil, é fundamental para que possamos dar uma resposta à altura à direção deste banco e ao governo do descaso e da opressão.
Por Fabiano Moura, Presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco