FÊNIX

FÊNIX

Dos seus tropeiros de chapéus de abas largas de folhas de palmeiras de Ouricuri, sob o reboar de jandaias-coquinho e voo acrobático do carcará – nosso condor das estepes nordestinas – tangiam suas manadas de gados tangerinos, pelas veredas empoeiradas e caatingas retorcidas.

Os desbravadores, cansados da árdua labuta do gado, descansavam às margens do outrora viril e caudaloso São Francisco, proseando sob as sombras de frondosos jatobás.

E assim, na peleja do dia a dia, de inda e vindas de interação, surgiram as primevas comunidades, originarias das fusões de brancos brejinheiros, negros quilombolas e nativos pankararus(minha bisavó era pankararu, casada com brejinheiro), e assim, em fecunda miscigenação, foi gestada nossa Mama Petrolândia. Do seu ventre, nasci caboclo macunaímico, cresci me alimentando de fartos frutos de benfazeja entranhas, transmudei de curumim catecúmeno a cristão, e foi ser gauche na vida, como diz Drummond.

Apartado dos seus aconchegos e encantos, desgarrado, migrei, embiquei minha piroga pelo Capibaribe, mas sem esquecer do umbigo soterrado em fecundo lar. Afogada minha Musa em diáfanas águas do Lago de Itaparica, ressuscitou como a Fênix, de silhueta sofisticada e moderna, hodierno, balzaquiana, mas com memória além centenária, 113 anos.

Por Manuel Gabriel, advogado petrolandense.

Imagem: Du Filmes
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